terça-feira, 27 de abril de 2010

UM DOIDO PERDIDO OU, QUEM PERDE UM, ACHA CEM !

Esssa foi contada por Gilvan Moraes, poéta, historiador, contador de causos, na Revista Águas do Bitury.

Leo e Zé Gordo serviram ao exército brasileiro, durante a Segunda Guerra Mundial.
Zé Gordo, músico, foi incorporado a tropa que seguiu para a Itália, teatro dos momentos finais do nazi-fascismo na Europa. Já Léo, soldado da Infantaria, ficou guarnecendo as prais, no sistema de vigilância do litoral brasileiro. Depois da baixa, vieram para Belo Jardim, com Zé Gordo ainda com mania de guerra, costumava tomar cachaça nos botecos da cidade e, nas suas euforias alcoológicas, via lobisomens, bichos diversos, etc.,etc.,etc.
Todos os dias, às 11 horas, a saudosa Mariola dava o seu sinal de almoço com um apito ouvido em quase toda a cidade. No primeiro apito dado pela Mariola, Léo e Zé Gordo se jogavam no chão lamacento, pensado que se tratava de bombardeio de avião; lembranças do campo de batalha, dos horrores da guerra. Passado algum tempo, os dois foram convidados para fazer parte da polícia militar, que aproveitou os dois ex-militantes por terem sido combatentes de valor.
Entre as missões que executaram juntos já como soldados da polícia militar, uma foi a de escoltar um maluco de Pesqueira até o Hospital da Tamarineira, no Recife. Na hora combinada, chegaram os três, Léo, Zé Gordo e o doido, na plataforma da Estação Ferroviária de Pesqueira. O doido, devidamente amarrado de cordas, não demonstrava nenhuma reação enquanto Zé Gordo e Léo estavam nervosos com esta missão, haja visto ser a primeira.Quando o trem chegou embarcaram todos, e foram tomar assento justamente no carro-restaurante do comboio. E haja cerveja, dando, em cada parada do roteiro até a capital, uma paradinha rápida, para completar com aguardente ! E os dois dormiram !
Quando o trem chegou á Estação central do Recife, acordaram meio azougados e verificaram que o doido tinha desaparecido !!! Foi um Deus-nos-acuda. Zé Gordo, o mais nervoso, só faltava chorar, com medo da punição que com certeza iria pegar. Mas Léo, de cabeça mais fria e pensante, dizia:
- Tem nada não, Zé. A gente encontra uma solução. Esfria a cabeça, Zé.
E realmente encontraram a solução. A primeira providência de Léo foi levar Zé Gordo, pelo braço, para o Mercado de São José. Chegando lá, Léo que conhecia toda a região, já tinha lá as suas amizades, chegou no balcão de uma daquelas biroscas e pediu um PF, que é como se chama o prato feito nesses estabelecimentos e uma meiota de cana. Zé Gordo ainda choramingava, mas aceito a empreitada enquanto Léo aprontava o plano para sair daquela enrascada. Léo olhou de lado e viu, sentado na calçada, uma dessas figuras que perambulam pelas ruas das grandes cidades. Olhou duas vezes para o camarada, aproximou-se dele e disse:
- Queres ganhar dez mil réis, pra gente ir ali num canto ?
O mendigo respondeu meio desconfiado:
- Prá onde, amigo ?
- Num se importe. Quer ganha o dinheiro? É só responder sim e o dinheiro está na sua mão, confirmou sério Léo.
O mendigo topo, botou o dinheiro no bolso da calça esfarrapada, esperaram o bonde chegar e partiram os três do centro do Recife até o Hospital da Tamarineira. Lá chegando, Léo apresentou-se aos enfermeiros, dizendo baixinho ao ouvido:
- O homem é matuto do interior. É doido, violento, joga pedra, come merda e rasca dinheiro, não é, mestre ?
O pobre homem, perplexo, só teve tempo de balançar a cabeça dizem sim e um batalhão de enfermeiros agarrou o infeliz, que gritava desesperado:
- Eu não sou doido, não!!! Me soltem!!!!
Só ali viu que tinha caído numa grande enrascada!

No outro dia, Léo e Zé Gordo chegaram na Estação de Trem de Belo Jardim, sorridentes e com a certeza do dever cumprido. Ninguém nunca mais ouviu falar do doido que fugiu nem do cidadão que tomou o lugar dele !

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