terça-feira, 27 de abril de 2010

SALGAR A VÉIA

Era uma sexta feira igual a tantas outras. Prefeitura cheia de pessoas vítimas de um país onde a desigualdade social se acentua a cada dia.
O Prefeito Valdecir Torres atendia cada pessoa que chegava com pedidos os mais variados: desde uma passagem para a romaria do Padre Cícero no Juazeiro, ama cesta básica, pagamento de conta de luz e água atrasadas, medicamentos, telhas, tijolos, etc., etc., etc.
Após a exaustão de um dia e trabalho numa Prefeitura do interior, o Prefeito Valdecir Torres dirigia-se a sua residência, cansado, estressado, em pleno sol do meio dia (ele sempre fazia o percurso prefeitura-casa á pé), quando, de repente, um munícipe interrompeu sua caminhada:
- Seu Prefeito, minha mãe morrei ontem de noite e eu queria um caixão para enterra minha velhinha.
Valdecir, com sua gentileza, comovido, disse:
- Meu amigo, eu sinto muito pela morte de sua mãe mas, infelizmente, o expediente da Prefeitura já foi encerrado e toda a verba que eu tinha para caixão já acabou. Espere para segunda feira quando a Prefeitura abrir que eu dou o caixão para enterrar sua mãezinha.

Desesperado e decepcionado, humilde, o rapaz agradeceu a atenção com lágrimas nos olhos e partiu.
Valdecir continuou sua caminhada até sua residência quando, poucos minutos depois, o rapaz que tinha pedido o caixão para enterrar a mãe interrompeu novamente sua caminhada e disse:
- Seu Valdecir. O Senhor podia me emprestar 5 cruzeiros?
Surpreso, Valdecir respondeu:
- Meu amigo, você me pediu um caixão para enterrar sua mãe. Agora vem me pedir 5 cruzeiros? Você ta me enrolando? Pra que você quer este dinheiro?
E o rapaz, com os olhos brilhando, numa mistura de calma e revolta, respondeu:
- É que eu vou comprar sal para salgar minha mãe até segunda feira, quando o Senhor vai dar o caixão !

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