terça-feira, 27 de abril de 2010

O DIA EM QUE A TERRA PAROU !

Era o dia 8 de dezembro de 1953. Dia de domingo. Festa de Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Belo Jardim. A praça em frente a Igreja Matriz lota de fiés para as solenidades religiosas e profanas.
Parque de diversões, serviço de som, palanques armados de um lado e de outro da praça para a apresentação das duas gloriosas bandas musicas.......... e.............; casais, namorados, paqueras (é o novo!!!!), todos com a melhor roupa, brilhantina nos cabelos, o melhor perfume, vestidos abaixo do joelho, em frente á igreja matriz para o início das solenidades religiosas. Era a festa mais importante da comunidade! E, o mais importante de tudo, era a festa profana, com lindas mensagens para os amores proibidos através do “serviço de alto-falantes” do parque de diversões, com canções de Silvinho, Waldike Soriano, dos bilhetinhos com frases de amor e ternura entregues de mão-em-mão, olhares que falavam mais que mil palavras, uma cerveja ou refrigerante natural... pouco importava!
Igreja iluminada, final das celebrações! As duas bandas musicas, com seu fardamento de gala e imponência de seus comandantes, Maestros ULISSES e ZÉ VIEIRA ou ZÈ VIEIRA e ULISSES preparavam, após um ano de ensaios, as suas apresentações. Era o que todos esperavam! Nesta época havia uma grande rivalidade (saudável) entre as duas bandas musicais: as famílias da cidade se dividiam entre as fanáticas apreciadoras e colaboradoras da ........ ou da ............
De comum acordo, pontualmente ás 21 horas, as duas bandas subiriam ao mesmo tempo, cada uma em seu palanque. Iniciava-se aqui, a grande maratona histórica !
Começou a execução de músicas memoráveis: dobrados, valsas, boleros caribenhos... Quando uma banda terminava sua apresentação, imediatamente a outra iniciava a sua. Aplausos, gritos de euforia, reboliço na praça! Meia noite e nenhuma das bandas dava sinal de cansaço ou de que seu repertório tinha terminado. Quatro horas da manhã e o revesamento musical continuava....
Às 7 horas da manhã do dia seguinte, os feirantes já montando suas barracas para a feira da segunda feira... e as duas bandas tocando... Uma comissão foi formada para solicitar o encerramento das apresentações mas os maestros disseram que, enquanto uma tocasse, a outra não pararia. Cansaço visível dos maestros e dos músicos mas, o povo, os torcedores de cada banda, continuava na praça aplaudindo, vibrando, querendo ver quem parava primeiro, o que, no entender de muitos, daria a vitória ao último que se apresentasse. As famílias iam em suas casas e levavam lanches e água para sua banda preferida pois o cansaço e a exaustão pareciam ter chegado ao limite.
10 horas, 11 horas da segunda feira.... e as bandas tocando!
Ás 12 horas, o padre...... e o Juiz de Direito...... convocaram os dois maestros para um acordo, tentando por fim á competição: os dois maestros desceriam ao mesmo tempo do palanque, descendo, em seguida, ao mesmo tempo, um músico de cada banda. E assim foi feito. Nenhum sairia perdedor nesta competição saudável, cujo vencedor foi o povo que passou 15 horas ouvindo, aplaudindo o que de melhor tínhamos na cultura.
Nesta hora, a TERRA PAROU para homenagear estes tesouros da nossa cultura: maestros ZÉ VIEIRA e ULISSES ou ULISSES e ZÉ VIEIRA...

Nenhum comentário:

Postar um comentário